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Pernambuco Vive Sua Revolução Industrial

O helicóptero decola do heliponto do Centro Administrativo de Suape. A 200 metros do chão, é possível ter a dimensão da revolução econômica que a injeção de R$ 46 bilhões em investimentos públicos e privados previstos até 2014 está promovendo em Pernambuco, a nova locomotiva do Nordeste.

Não é o único canto do Estado que avança ligeiro e que tem mudado não só a vida dos 8,7 milhões de pernambucanos, mas sobretudo permitido a volta dos retirantes que um dia caíram no mundo atrás de uma vida melhor.

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No interior, duas obras gigantes (a transposição do rio São Francisco e a construção da Ferrovia Transnordestina) ajudam a desenhar uma nova paisagem na vida do morador do agreste e do sertão.

LITORAL

No litoral, onde pode-se observar a síntese da nova dinâmica econômica, o complexo industrial-portuário de Suape, erguido a 40 quilômetros ao sul do Recife, brota a velocidade impressionante.

"Cento e vinte empresas já estão instaladas, outras 30 estão em construção e mais 20 irão surgir até 2014", enumera Frederico Amâncio, vice-presidente de Suape. Do alto é possível avistar obras em todos os cantos dos 13,5 mil hectares do complexo.

Justo ali, onde há 380 anos invasores holandeses que acharam de tomar uma fatia do Brasil colônia indicaram como ponto mais propício à criação de um porto.

E foi nessa região, após romperem pequena porção da parede dos arrecifes que protege o litoral do Atlântico, que os holandeses criaram uma passagem para que os barcos de açúcar alcançassem os navios em alto-mar.

A visão dos invasores ganhou forma quase quatro séculos depois. Investimentos de mais de US$ 3 bilhões nos últimos dez anos criaram a infraestrutura básica para o atual ciclo de expansão do porto de Suape, e converteram a região no principal polo de atração de negócios do Nordeste brasileiro.

A APOSTA PRIVADA

Agora, o PIB pernambucano demonstra vigor e o combustível é Suape. Em 2010, o PIB estadual foi de R$ 87 bilhões _expansão de 15,78% num só ano. Os velhos engenhos de cana e as usinas de açúcar e álcool pouco a pouco deixam de ser predominantes na matriz econômica de Pernambuco.

A aposta do poder público em Suape ao longo de 40 anos desde o plano original de 1960 começou a seduzir o capital privado. O complexo industrial-portuário, um modelo inédito no Brasil, está fazendo surgir um novo Estado industrial no país.

"Não tínhamos indústria de petróleo e gás, nem indústria naval ou automobilística. Agora há uma nova perspectiva para o Estado", diz Geraldo Júlio, presidente de Suape e secretário de Desenvolvimento Econômico.

ACIMA DO NORDESTE

A forte expansão econômica elevou a renda per capita do Estado a quase R$ 10 mil, acima da média do Nordeste, de R$ 7.488, mas ainda inferior à renda nacional, de R$ 15.990.

A criminalidade caiu 25% em quatro anos, mas ainda é de 40 homicídios por 100 mil habitantes, quatro vezes mais que no Estado de São Paulo, e superior à média nacional, de 24,5 por 100 mil.



A expansão industrial de Pernambuco deve entrar agora na segunda fase: a atração de fornecedores dos projetos-âncoras.

Um dos maiores empreendimentos no Estado, o EAS (Estaleiro Atlântico Sul) negocia a instalação, em Suape, de fornecedores de equipamentos para a montagem de navios-plataforma e navios-sonda usados na perfuração de campos de petróleo.

"Alguns grandes fornecedores internacionais já vieram aqui para observar se o polo naval oferece escala de produção. Acho que, em breve, vamos ver alguns desses fornecedores chegando", diz José Roberto de Moraes, diretor de operações da empresa.

O EAS, associação entre a Queiroz Galvão, a Camargo Corrêa, a PJMR e a sul-coreana Samsung, conseguiu uma carteira que vale hoje US$ 8,1 bilhões.

São 22 navios-petroleiros, sete navios-sonda e o casco da P-55 (plataforma que irá operar no campo de Roncador, na bacia de Campos, no Rio), um pacote todo atrelado aos pedidos de uma só empresa, a Petrobras.

Para o EAS, atrair fornecedores para ampliar o polo naval de Suape pode ajudar o próprio estaleiro a melhorar a performance de construção das embarcações. O plano do estaleiro é reduzir o tempo em que um casco de navio permanece no dique seco.

Hoje, eles demoram até seis meses na instalação. O plano é reduzir o tempo para dois meses. Para isso, o estaleiro terá de montar navios a partir de megablocos. O primeiro petroleiro, o João Cândido (em fase de acabamento), foi montado a partir da junção de 240 blocos.

O Zumbi dos Palmares, atualmente em montagem, será construído a partir de 150 blocos. O terceiro, ainda não batizado, será feito com 30 blocos gigantes, cada um montado fora do dique. A meta do estaleiro é montar um petroleiro unindo apenas 22 partes.

DE VENTO EM POPA

Se as perspectivas para atração de fornecedores do estaleiro são boas, as chances de a Impsa (Indústrias Metalúrgicas Pescarmona) criar o primeiro grande cluster em Suape são maiores ainda. A companhia argentina entrou no negócio de energia eólica há cinco anos. A atividade já responde por 60% das receitas.

O sucesso nos leilões de energia eólica no Brasil garantiu à companhia uma carteira de pedidos de R$ 3 bilhões em aerogeradores.

"A empresa está instalada em Suape há dois anos e já negocia a vinda de pelo menos dois produtores de torres para os aerogeradores e duas empresas de pás (as hélices do gerador)", diz o gerente comercial da empresa, Paulo Ferreira.

Distante cerca de três quilômetros da Impsa, a Petrobras monta uma mega refinaria que terá capacidade de processar 250 mil barris de petróleo por dia. Ao lado da refinaria também é construída uma petroquímica.

A estatal não quis falar sobre o projeto, mas a expectativa em Pernambuco é que a produção de matérias-primas petroquímicas viabilize um polo têxtil na região, com indústrias para fabricação da fibra, do tecido e, quem sabe, confecções.

Outra promessa é a formação de um novo polo automotivo no Nordeste, com a instalação da Fiat até 2014, segundo previsão da própria montadora.

A unidade terá capacidade para 200 mil veículos e a previsão é a de que, por isso, constitua um novo parque de autopeças.





Fonte: folha.com
AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A SUAPE (PE)

Editoria de Arte/Folhapress